31.1.09

cabeça de balão

no dia 16 de janeiro esse blog fez aniversário e claro que eu, distraída, não lembrei.

quem escreveu o primeiro post naquele quarto de hóspedes não é (mas é) a mesma pessoa que escreve hoje, temporariamente manca da perna direita por conta de uma cãimbra (nunca mais comprei bananas). não sei o que tinha na cabeça na ocasião, nem nos 24 meses seguintes, nem agora.




27.1.09

versus

os jornais alertavam
sobre sua presença
na cidade
eu ouvia atenta
enquanto bebia leite
sabendo que vinha
ao meu encontro
nos posicionávamos
com capricho num beco
entre os prédios altos

nossos uniformes brilhando
nos movíamos em silêncio
nunca fora do ritmo
éramos lutadores
de videogame

18.1.09

fritas

do outro lado
da mesa
v. abandona
suas batatas
eu suspiro distante
de onde
foi
que
v. tirou
tanta felicidade
dos passeios com seus pais
aos domingos do material
escolar novinho das meninas
que sorriam no baile?

13.1.09

monarquia

as nuvens se atropelando
imensas a gente pensa
que terá um bom ano

as frutas estranhas
na estrada aquele seria
o último

dia da bicicleta roxa
quando o telefone toca
saio na rua de pijama

as nuvens lá suspensas

e a gente sempre pensa
que terá um bom ano

30.12.08

sabedoria

12.12.08

borges

(...)
Sem literatura só há um poço em que caímos e lá ficamos, os olhos estalados no escuro, ouvidos grudados nas paredes cheias de limo, esperando que algo aconteça. Mas nada acontece fora de nós. Nada acontece além do medo. Nossos corpos definhando e consumindo pedrinhas encontradas no chão. Linhas e agulhas e mecanismos de produção ainda estão estirados até o fundo do poço, ao nosso alcance, objetos que esperam pacientemente que sejam transformados em corda, uma corda que os mesmos deuses então puxarão, nos trazendo pra esse campo assim, agora nublado e sem montanhas à vista, mas pelo menos aberto. E com luz suficiente pra que vejamos nossos passos. E observemos, no espelho mais próximo, que ainda temos nove anos de idade. Que pisamos em solo argentino. E que somos Jorge Luis Borges.


abner dmitruk


8.12.08

bananas

the best part of love is when you say
you'll be my friend
we were wearing our pajamas
we were eating some bananas
I wanted to tell you
how I want to be your pal

(fourteen - beat happening)

5.12.08

saúde

não fosse aquele rapaz no ônibus me levar umas fitas numa sexta-feira, talvez eu não conhecesse minha banda preferida dos anos todos que viriam. e também não desenvolvesse uma erotomania ridícula da qual hoje me envergonho. de qualquer forma, no sentido de gostar muito de um texto ou música a ponto de se apaixonar, acho que uma pequena erotomania é saudável.

sempre esses discos e livros virão encomendados no ônibus. e outros, outros ônibus, colecionáveis e conectados. nada mais saudável do que roubar pra si aquilo que é valioso pra alguém.


4.12.08

28.11.08

cce

depois de encarar
dois porta-retratos
ingênuos

como se sente

o ladrão em sua máscara
preta e roupas
listradas

carrega traiçoeiro
meu microsystem
e meu coração

pela ciclovia

21.11.08

wes

mentirosa você disse que não gostava de wes anderson
sério não entendi?
acho que eu influencio o gosto das pessoas ao contrário às vezes
sabe, né? não precisa explicar, né?
eu comi um pêssego enorme agora há pouco
não sabia que existia pêssego tão grande
pêssego mancha?
kd vc
vou tomar meus comprimido tudo tchau
eu não gosto de wes anderson
mas gostei muito do darjeeling
e preferi falar sobre ele sem ficar com aquela frescura de
"nunca gostei de wes anderson, mas"
não é frescura.
até porque todo mundo gosta.
ah, vamos ser normais,
vamos gostar do que todo mundo gosta


sei lá eu vi tenenbaums e aquele do steve zissou mas nem aluguei esse aí.
acho que vou ver agora.


20.11.08

viagem

de todas as generalizações a respeito dos filhos únicos, uma é verdadeira: filhos únicos de fato sentem inveja de irmãos.
pares, trios, quartetos. o quinteto.
little women. irmãs gêmeas que se reencontram. bandas com membros de mesmo sobrenome.

se uma das grandes agonias da vida é arranjar boas companhias, o sortudo cidadão cuja mãe não tomou pílulas tem, no mínimo, uma: alguém com quem compartilha características, memórias e década de nascimento, sem esforço algum.

lá está o filho único, no vazio do seu quarto individual, na paz tediosa da ausência de brigas, com as barbies todas vestidas e os tabuleiros dos jogos inutilmente abertos, sem sobrinhos pra toda a eternidade.

talvez ele visite vários países e salte de pára-quedas e faça tatuagens e planeje sua própria família com uma mesa enorme pra almoços politicamente corretos pra oito - mas ele nunca terá irmãos.

(vamos parar com o drama)
é por isso que filmes de irmãos sempre me doem
(não consigo).

eu provavelmente não terei filhos, mas, caso tenha, cuidarei pra que ganhem companhia genética pra coisas como abandonar as malas quando o trem tá indo embora.

e viagem a darjeeling é muito legal.

assistam.

19.11.08

omelete

tem dias em que eu acho blog uma coisa muito brega,
um apanhado dos fragmentos mais mesquinhos das nossas existências.

e que gente legal não tá escrevendo nem lendo blog nenhum.
gente legal tá andando na rua ou fazendo omelete.

minha internet voltou pela 37ª vez esse ano.
pretendo escrever no blog com mais frequência.

rambo

meias roubadas até
o cachorro tem suas
urgências

8.11.08

tamires subindo as escadas com lupa

joelhos íntegros, tamires me olha
de soslaio, talvez não enxergue
nada e então não saiba

que meu cabelo

é cinza enquanto o dela é claro
lembra uma tigela mas creio
que tamires não se importa

se por acaso

desço correndo as escadas
e finjo não enxergar tamires
para não oferecer ajuda