13.8.09

calças curtas

receber quem chega de uma viagem rápida
é prever acidentes rodoviários com improvável angústia
lá vai o ônibus deitado se arrastando no asfalto e sua cabeça grande perdendo
os fones de ouvido e talvez outros detalhes enquanto velhos e garotas voam
longe com seus pacotes de salgadinho
e o fracasso dessas suas pernas
em relação às saídas
de emergência lá no alto

checar então velhas fotos
e concluir que sempre foram
assim bem menores
que o tronco

3.8.09

gripe suína

oi
oi
to com muita tosse
e febre?
vou parar de tomar os remedios, e se voltar a febre, vou falar com o medico amigo da minha irma
se a febre voltar...
sim!
procure ajuda
se eu morrer, queri que saiba que gosto muito de vc
quero*
e que vc é a pessoa mais legal que eu conheci nesse ano
esse ano??
é
poxa
mas só a mais legal desse ano?
poxa, a pessoal mais legal desse tá pelo menos entre as 3 mais legal da minha vida
se levar em conta que conheço poucas pessoas

se eu morrer vc posta isso no twitter?
ai que dor

16.7.09

poema do vento

não é preciso ter intuição de dale cooper pra enxergar as conexões simbólicas da rotina e algo de angelo badalamenti & corujas traiçoeiras no disco novo do mount eerie, cujo lançamento oficial acontece em agosto. basta conhecer o ventilador de uma das casas de twin peaks e colecionar as pistas em cada uma das músicas de phil elverum em wind's poem. a mais óbvia está na oitava faixa, between two mysteries, mas todas as outras têm nomes dignos daqueles poemas místico-eróticos que a laura palmer escrevia em seu diário: through the trees, wind speaks, my heart is not at peace e por aí vai. laura não morreu, mas escreve as letras do mount eerie.
dizem que o vento, grande símbolo das paisagens etéreas, foi a inspiração inicial dos criadores de twin peaks quando a série nem tinha enredo ou personagens escritos: eles teriam vendido a ideia do piloto só descrevendo o assobio de um vendaval. parece que a afinidade entre a mesma força da natureza e o tal elverum decolou depois de uma nova temporada numa cabana na floresta, embora já aparecesse em seus trabalhos anteriores. já sabemos quais DVDs ele levou pra relembrar os velhos tempos, que são os mesmos de eerie indiana, aquela série do menino envolvido com enigmas numa outra cidadezinha americana.
diane, aqui vai uma teoria: mount eerie visivelmente se conecta a eerie indiana, que, por sua vez, já citou até a senhora do tronco de twin peaks, agora cenário desse disco do mesmo mount eerie.



7.7.09

outra linha

tinha 16 anos e pouca intimidade com a internet quando li pela primeira vez a antologia 26 poetas hoje, organizada pela Heloísa Buarque de Hollanda e publicada em 1976. depois disso tudo mudou, enquanto eu descobria que Roberto Piva, Francisco Alvim, Waly Salomão, Chacal e Ana Cristina Cesar não foram históricos só na minha vida.

se fizesse uma viagem no tempo pra contar pra mim, lá no interior do interior, que em alguns anos eu faria parte de uma antologia - daquelas que eu tanto amava - organizada pela mesma Heloísa Buarque de Hollanda, eu provavelmente teria morrido de susto e não estaria aqui.

mas estou. depois de algumas publicações acidentais na internet e em jornal, minha primeira e talvez única em livro (por isso toda a comoção que não volta mais) é na antologia otra línea de fuego: quince poetas brasileñas ultracontemporáneas. lançada na espanha pelo selo maRemoto, é uma edição bilíngue, na qual as 15 poetas selecionadas têm 13 poemas em português e também na bonita tradução para o espanhol da poeta e dramaturga Teresa Arijón.

é muita alegria dividir um livro com essas mulheres. é sério e são sérias: Alice Ruiz, Alice Sant'anna, Ana Cristina Cesar (sim), Angela Melim, Angélica Freitas, Bruna Beber, Camila do Valle, Claudia Roquette-Pinto, Daniela Storto, Izabela Leal, Juliana Krapp, Lu Menezes, Marília Garcia e Virna Teixeira.

fiquem com a foto e alguns poemas em espanhol.
quando eu souber como comprar, aviso aqui.
o livro é lindo (e não pela minha presença, é óbvio).

abraços pra elas e pra todo mundo.



buenas noticias
hisopos nunca compra
el repartidor de periódicos
semidespierto en arrebatos
destruyendo tal vez la artesanía
recién producida por ex-criminales
en trance

cotton algodón candy dulce
jobson con su nombre raro tenía
el cabello lateral como un príncipe
- jugábamos al escondite
(yo) terminaba por hacer pipí entre las plantas
muy tensa y perfectamente escondida
después lidiaba con la vergüenza
de la mancha en el cotton del pantaloncito
pero ganaba el juego y ahí estaba
la alegría

30.6.09

sinédoque, nova iorque

mesmo que mude de opinião amanhã, hoje - terça, 30 de junho - respeito bastante esse 1º filme do charlie kaufman como diretor. o mesmo vale para o diretor da história dentro da história, interpretado pelo phillip seymour hoffman, com sua tentativa utópica (embora inevitável) de aproximar ficção e realidade, numa projeção generosa também da realidade fora do filme. charlie kaufman deve pensar bastante nesses limites, já que seus roteiros anteriores também tratam das manifestações físicas das coisas da cabeça.

There are nearly thirteen million people in the world. None of those people is an extra. They're all the leads of their own stories.

verdade assustadora.



24.6.09

escorpião escarlate




ele é divino, esperto, genial
é o paladino 100% nacional

16.6.09

felicidade apática, apatia feliz

de passagem só pra lembrar da genialidade do tumblr temático happiest people ever, que diz reunir registros de pessoas que ignoravam a existência do XIS da foto sendo feita e, só por isso, saíram com cara de bunda. é o que eles dizem, e tem até um queijo no fundo.

todo mundo tem fotos infelizes, mas há também a possibilidade disso não ser questão de escolha, e sim de quase predestinação. um indivíduo que nasce todo sorrisos (espontâneos ou não) dificilmente conseguirá chegar, mesmo se quiser, à atmosfera desse tipo de semblante apático que ultrapassa o tédio e a paisagem simples. e vice-versa: o verdadeiro apático não consegue fingir ímpetos de empolgação muito convincentes.

no caso do tumblr das "pessoas mais felizes ever" (note que o nome fala do estado de espírito, não do acidente) a pessoa, poxa, na maioria das vezes tá num momento de diversão, vendo a câmera E o fotógrafo, e não se anima sozinha? mas nada é certo. talvez eu leve muito a sério a descrição, o queijo e minhas próprias fotos. e apatia, aliás, nem sempre descreve os sorrisos de monalisa, que são até mais ricos em emoção que muitos dos sorrisos abertos.

de qualquer forma, é bem mais engraçado pensar que essas pessoas são assim o tempo todo. e difícil acreditar que, no próximo segundo, elas passariam da vibração DO CONTRA aparentemente genuína pra um sorrisão fotográfico proporcional.

25.5.09

casa de praia



beach house, de novo, apesar dos balões.

20.5.09

feijoada

oi
vi seu twit
sobreviveu à feijoada velha

sobrevivi
acho que tou com verme mesmo
eu tb acho
depois da feijoada ainda comi um montao de tornta de frango
mas é sério
não é brincadeira

vixi
pq?
até o seu bafo e tal
e os barulhos de estômago
e o intestino desregulado
tudo isso tem a ver com vermes
e se vc não toma remédio há anos, a probabilidade é ainda mais alta

diagnostico completo
mas é sério
vc tem que tomar remédio

vou tomar remedio de verme
como chama?
os vermes saem vivos no coco? pq se sair, nao vou tomar nao
não
eles saem moídos

que loco

2.5.09

os melhores amigos

com a amizade do google reader e o método de leitura dinâmica finalmente se mostrando útil, minha ânsia doentia de compartilhar é proporcional ao velho dilema da participação supervalorizada (na falta de um nome melhor pro dilema).


tanta coisa pouco importante pra dizer, tanto seriado ruim pra comentar, tanta foto de roedores com linguinhas que, quando tudo acumula, o desespero agora responde por um novo número: 1000+. em oposição ao prazer, que é o zero. mas o zero - quem conhece sabe do que falo - traz outro tipo de desespero.

enquando estreito meus laços diários com o reader e com as vertigens, mais me sinto próxima dos autores dos blogs que contribuem com isso. e das linguinhas dos roedores. na maioria das vezes, nosso único amigo em comum é o leitor de feeds do google, mas isso não é problema.

12.4.09

páscoa feliz

vou ver filme
eu tb
até
ganhou ovo?

aposto que ganhou ovo da itamaraty
ganhei nada
aposto que vc tbem nem ganhou
aposto que ninguem lembrou de você


8.4.09

notas pra vida toda

uns dias atrás assisti ao documentário this filthy world. trata-se do john waters sozinho num palco, falando durante mais de uma hora sobre a infância, cultura pop e, naturalmente, os filmes que dirigiu. transcrevo aqui (na falta de coragem pra traduzir) alguns dos trechos mais inspiradores dessa palestra motivacional da IMUNDÍCIE.



All young people need somebody bad to look up to.
When I was a child, the holy trinity to me was the Wicked Witch of the West; Rhoda Penmark, the child murderess in “The Bad Seed”; and Captain Hook. I prayed to these people.
The Wicked Witch… I was in drag only once in my life and that was as the Wicked Witch. I went to a children’s birthday party and I raised a few parents’ eyebrows, but it wasn’t so much I wanted to wear a dress, (…) but because I wanted to have green skin – something you can see as coming true.
I was the only kid in the audience who didn’t understand why Dorothy would ever want to go home – it was a mystery to me. To that awful black and white farm, with that aunt who was dressed badly, smelly farm animals around, when she could live with wing monkeys and magic shoes and gay lions. When Dorothy would be clicking her heels together, I would be the only child in the audience sobbing uncontrollably.

--

As a kid, the library saved my life. I mean, most everybody here likes the library, many of you probably had your first sexual experience at the library. (…) We have to make books cool again. If you go home with somebody and they don’t have books, don’t fuck them. And DVDs don’t count either. I had a plumber that came at my house and he looked around and said “ahh, do you read all these books? I hate read. Turning those pages right to left, right to left, right to left…”.


Even as a kid I would go to the library and look at the card catalog and I’d look up things I wanted to read (…) and then it would say “see librarian”. And that pissed me off. So I found out where the “see librarian” books were behind the counter and I stole them, while they were talking to the regular children. So that just goes to show that if you’re a librarian today and a kid asks for “Naked Lunch” and he’s seven years old – if he’s heard of it then he’s old enough to read it.

--

(On his early movies) Next came “Roman Candles”, which was very much influenced by “The Chelsea Girls” (…). It was basically just home movies of my friends like Mink Stole shoplifting and wearing outfits they’d stolen from the paraphernalia boutique in New York. We were really good shoplifters. I had a special coat for records - and I don’t feel bad, because they’re the same records I pay 25 thousand each today to put in soundtracks to my movies. So they got it back, it only took forty years.


Divine was really good. I saw Divine walk out of a department store once holding a chainsaw and a TV. No one said one word actually.

acaso & necessidade

A experiência de criar um poema é maravilhosa. Mas, como não depende inteiramente de mim, sei que corro o risco de nunca mais vivenciá-la. Se parar de fazer poesia, vou lamentar – só que não a ponto de disparar um tiro na cabeça. Nenhum poema, de nenhum poeta, me parece imprescindível. Dante Alighieri poderia não ter escrito A Divina Comédia. Ou poderia tê-la escrito de outro jeito. Novamente, tudo se subordina à lei do acaso e da necessidade.

ferreira gullar em entrevista à revista bravo

6.4.09

os moradores de quitinete

o chão de quitinete
acumula os mesmos ácaros
que andam pelos corpos e cabelos
compartilhados no único
travesseiro úmido
dos moradores de quitinete
quando sentem sono