24.2.10

lista de afazeres

aqui
bem
aqui as coisas continuam
as mesmas
mesmos copos de plástico
mesmos fios de cabelo castanho nos pratos
recolhidos rapidamente enquanto
um de nós serve
o almoço

17.2.10

mafiosos


saiu hoje a revista virtual de edição única be my mafia family, uma iniciativa da querida ana rüsche com a colaboração de outros 11 poetas e seus poemas sobre/de fracasso. meu poema fala da rejeição com batata frita -- ou outros incidentes com batata frita. adequado ou não?

o poema já esteve aqui no blog, mas a ana também nos convidou a escrever notas constrangedoras (no bom sentido) de bastidores.


independente da sua escolha de lanches e fracassos, baixe aqui

e leia a matéria que saiu na folha online:

Revista de poesia para Kindle e Sony Reader será lançada nesta quarta-feira

PAULA DUME
colaboração para a Livraria da Folha
A revista de poesia "Be My Mafia Family!", cujo nome refere-se ao jogo "Mafia Wars" do Facebook, terá lançamento virtual nesta quarta-feira (17).

Edição única, a publicação reúne 12 poetas e também amigos que decidiram compartilhar seus fracassos em forma de versos. "Cada um nos entregou um poema que fala sobre fracasso. Ou o poema é ruim ou narra alguma citação de fracasso. O poeta teve que colocar uma nota explicativa sobre isso --por que ele escreveu esse poema-- e explicar o contexto da época", esclareceu a escritora Ana Rüsche, uma das idealizadoras do projeto.

A revista será distribuída exclusivamente em formato digital, e poderá ser lida por qualquer internauta, seja em PDF, Kindle ou em Sony Reader.

Os "poetas mafiosos" Ana Guadalupe, Ana Rüsche, Andréa Catrópa, Érica Zíngano, Felipe Sentelhas, Lilian Aquino, Maiara Gouveia, Márcio-André, Paulo Ferraz, Rafael Daud, Renan Nuernberger e Ricardo Silveira vão oficializar o lançamento do volume no próximo sábado (20), a partir das 20h, na Choperia Liberdade.

11.2.10

um poema de sorte

feliz o poema
que ganha outro poema
em troca

só encaixadinhas
as estrofes cumprem
seu papel na terra


21.1.10

compro

uma guitarra
pra nintendo wii
tratar aqui

14.1.10

ampla sobreloja

não há grades nas janelas
nem tapetes

tudo bem que já não convida visitas
tudo bem que já não estica as costas
tudo bem que separou revistas
velhas pra reler agora

era certo que hoje chegaria
ao contrário das outras datas

então os espaços
entre os azulejos seriam
mais familiares que esta casa

22.12.09

as 10 melhores do formspring

(nosso cadernão de perguntas tardio)


e se eu dissesse que te amo?
não existe amor sem convivência, faxina, falta de dinheiro e pão com maionese.

agachadinho?
tenho má circulação. não consigo nem sentar de indiozinho

mentiras sinceras te interessam?
interessam. migalhas dormidas, raspas e restos, porções de ilusão.

meias verdades são mentiras?
nem mentiras são mentiras

nossa. seu ibope caiu, queridinha?
já foi bem mais caído, né

O QUE VOCE PASSA NAS SUBACA?
desodorante daqueles mais potentes. será que não tá funcionando?

alguem ja shorou por sua causa?
já. mas eu shoro com mais qualidade e quantidade

qualé seu papel nos relacionamentos, já que insistes em não ser gatinha. beijos.
promotora de tensões, companhia de supermercado etc.

Dean Moriarty ou Sal Paradise?
tenho on the road em casa mas não passei da décima página (esta resposta é um oferecimento do google).

seu nariz ainda sangra?
parou, mas sempre acho que tá voltando.


14.12.09

óbvios 6 melhores discos do ano

beach house - teen dream
casiotone for the painfully alone - vs. children
dead man's bones - dead man's bones
eels - hombre lobo
girls - album
mount eerie - wind's poem

13.12.09

óbvios 6 melhores filmes do ano

adventureland

anticristo

arrasta-me para o inferno

deixa ela entrar

distrito 9

tudo pode dar certo

24.11.09

av. morangueira

a avenida sabe
dos tornozelos torcidos
dos pedestres as tensões
daquele cuja casa foi invadida
três noites antes a avenida
já sabia o tamanho dos chinelos
39 desvirados pra evitar tragédias
maiores como as contas
telefônicas quando você sorri

22.11.09

táxi para o inferno


a mesma cidade pequena
antes atravessada a pé
só pela agonia de dormir junto
agora tomada por pilhas de lixo
(certos coadjuvantes deixam rastros, mas separam o vidro)

sempre depois do protagonista
tirar a roupa de baixo o assassino
atacará as barracas de acampamento
erguidas com devoção e dificuldade
(ele nunca decepciona)

numa sexta-feira alguém
sempre perderá o sinal telefônico
pela primeira e última vez como
todo filme de terror ensina

9.11.09

bem-amado

perto de coisas como uma galera que vê trechos do futuro mas continua chata, a história de um quarentão que se prostitui até parece entretenimento de qualidade. claro que toda série tenta ir muito além da sinopse e, com um pouco de paciência, qualquer um se surpreende com, digamos, as personalidades dos adolescentes excluídos que interpretam hinos da música pop num coral do colégio.

como o comboio de carnivàle não era feito só de artistas de circo, um cara que se prostitui é muito mais que um garoto de programa mais velho. é por isso que você consegue indicar hung pra sua tia sem sequer mencionar a atividade do protagonista e, sem muito esforço, considerar esse o seriado mais ternura das últimas temporadas.

acontece que ray drecker, o bem-dotado do título nacional, que está prestes a ser demitido do seu emprego ruim e tem um casal de filhos incrivelmente inadequados, certa madrugada acorda com sua casa destruída por um incêndio e passa a viver numa barraca de acampamento, enquanto é humilhado pelo vizinho rico e pela ex-mulher. depois de ir a uma palestra motivacional pouco confiável, ele resolve usar seu maior talento (hum hum) pra ganhar dinheiro, com a ajuda de uma poeta frustrada esquisitinha que tenta fazer pães recheados com poemas. assim nasce a consultoria da felicidade, um jeito bonito de chamar os serviços que ray e tanya passam a oferecer.

a cada não-programa, ray, tanya e os outros personagens não menos perdidos reconstroem suas vidas e às vezes encontram mel de abelha, enquanto a primeira temporada de hung nos presenteia com reflexões sinceras e bem-humoradas sobre homens, mulheres, homens inseguros, mulheres tristes, adolescentes feios, possíveis contratantes de sexo pago e outras maiorias adoráveis que a gente talvez nunca tenha visto na TV.

3.11.09

álbum de aniversário

o bolo logo se espatifa
na calçada se a rua dá mais voltas
que os barcos

as velas desejam chegar logo
logo em casa logo sem o amarelo
das fotos



inércia


• sf (lat inertia)
Fís Propriedade que têm os corpos de não modificar por si próprios o seu estado de repouso ou de movimento.
Falta de ação, falta de atividade.
Preguiça, indolência, torpor.
Incapacidade.
Ignorância de qualquer arte.
Resistência passiva. I. cultural, Sociol: capacidade revelada por determinados elementos culturais de resistir à mudança e de perpetuar-se em um meio cultural a que não se ajustam.
(michaelis)

(...) todos os corpos são "preguiçosos" e não desejam modificar seu estado de movimento: se estão em movimento, querem continuar em movimento; se estão parados, não desejam mover-se. Essa "preguiça" é chamada pelos físicos de Inércia e é característica de todos os corpos dotados de massa.
(wikipédia)

20.10.09

camundongo

calabouço o corpo pesa
toneladas lá dentro
o camundongo sobe escadas

na torre mais alta as alavancas
fazem você lá fora
alcançar um lenço de bolso



14.10.09

mofo e batatas

o mofo das paredes
da velha padaria parece
entrar nessa xícara

sobre o balcão de biscoitos
o velho aviso ainda avisa:
fermento natural

(batatinhas)

seriam batatas pequenas
um ingrediente misterioso

na receita dos croissants
de chocolate disformes
que conservam

alguma doçura durante
a semana toda exceto no dia
em que o mofo faz visita