24.5.07

não me canso


i'm a deep sea diver losing air

é mesmo uma letra deprimente, mas gosto muito dessa música e desse disco do grizzly bear. o clipe é tão feio que logo me conquistou. vejam: bonecos (que qualquer um desenharia melhor) num videogame lento com cores de cocô e fases de água e areia. eu - como todo mundo - sempre odiei as fases de água E as de areia também (aí lembro de um jogo horrível pro mega drive - chameleon kid). eu (previsível) gostava das fases verdes e fáceis e daquelas no mundo do chocolate ou da gelatina.


22.5.07

a memória das coisas

revelo um fato místico
enquanto me agarro
ao seu casaco:

usamos lãs de ovelhas
que tomaram chuva

e basta
um vaso de orquídea
uma cápsula do tempo
um bolso secreto
na parte de dentro

pra que eu te guarde
de um céu
que pretende muito


20.5.07

lilipute

longe se estendem
banais cartilagens
dos planos destruídos
nas pausas para lanche

apenas a recordação
de guliver capturado
com lanças pelo corpo
e novidade nas sardas

inspira breve susto e
breve exercício respiratório

para recobrar a calma




14.5.07

toc

quem bate à porta
acredite
não é o frio

que é costume mandar embora

não são os escoteiros
ou as mulheres da igreja
ou os sujeitos de boina

hoje não abra

quem bate
é esse intruso
que de brinde levará
as chaves e
o dente mole
há anos à espera
de um impulso
no barbante

e mudará
por completo
o sentido
dos rituais noturnos
pra checar mil vezes
se a porta
foi trancada


7.5.07

portal literal

surpresa: graças à muito querida e dona de poemas tão bonitos bruna beber, estou lá na curadoria de poeta, levando três poemas daqui.


seqüência

aquele é o cenário quieto em tons
de verde triste e verde claro
escrivaninha cadernos e telescópio

aquelas são as persianas
bem fechadas para que a inspiração
não ouse ir embora de alpargatas

e
esse
que te escreve
é o personagem que morre
falando sobre asteróides
ao telefone

5.5.07

poemas pra ninar pesadelos

da encomenda

passos longos em direção ao
ponto árido onde barcos
trazem embrulhos
p. exemplo caixas
de madeira
nas quais os entes
queridos
estão
todos
guardados

-

da comida

é meu desjejum é
meu único
o sinto prestes a ser servido
um prato grande e
vermelho
o vejo antes que seja prato
salivo como um bicho

assim que chega
noto, medonha e trêmula,

que está vazio

-

da nudez

despertar súbito
sob os dedos enormes
dos colegas
há a surpresa
de afinal não ter trazido
sequer o vestido






3.5.07

selos


toda quinta-feira numa coluna de poesia no diário (maringá): poemas inéditos & outras tentativas bem intencionadas, sob o novíssimo codinome dessa ana guadalupe.



28.4.07

de impacto

enquanto nada cicatriza
parece bonito ostentar
feridas

e clichês - em movimento
(medir o pulso com
velocímetros)

amar é sempre acidente
e masoquismo
(não há novidade nisso)

e cronenberg fez um filme
sobre prazeres estranhos


mas
você avança muito rápido
e eu nem relógio tenho


26.3.07

um aviso

se esperança existe
eu evito
desesperar-me nesse espaço
de tempo: minutos

(...)




até as vaqueiras ficam tristes

notas no diário
(misterioso):

achados & perdidos
à beira de um ataque de gênero
aulas mortas e ouvidos muito limpos
uso de microscópios e lenços decorados

24.3.07

idéiafixa


jura

vou me apegar muito a você
vou ser infeliz
vou lhe chatear

roberto schwarz


5.3.07

pachorra

embora não se chamasse joana e não estivesse grávida de nada
correria pelas quitandas como se fosse quarta-feira e
assumiria que não era bailarina, que dançar não sabia,

tatuaria palavras-chave como medida de emergência para
contar a todos que não havia sequer uma alavanca, nenhuma,
que por acaso garantisse destruição bela ou segura.

não sabiam seu nome, telefone,
mas em breve certamente
explodiria

em conteúdo perecível
no carpet da sala

2.3.07

celina

parece que ela ficou
mocinha e libertou-se

veio me dizer
ofegante nos ouvidos
que cansara de usar
polainas

que seu nariz
sangrava todas as
noites e manchava
a cama

(um vermelho vivo
que agora fugira das
bochechas)

música do menino solitário

saw a face
from my childhood days
a smiling girl/not a friend
milky red funny face
smiling smiles

mother/and son
stood by a dad
daddy
you sure eat a lot of snacks

(...)

all forgotten yesterdays
school days remind me of
when I was a boy
all my life I've been this lonely boy

doo doo


vincent gallo, "lonely boy"