alô: leiam o meu amigo renato mazzini, um dos poetas com quem mais me identifico. aqui vão três dos meus preferidos, sem mais.
poema obscurecido
velha senhora comendo grama com chopsticks
me pergunto o porquê disso
e a providência me tenta pregar uma peça
velha senhora pintando um quadro
unhas confusas no verde-pântano da grama
olho e entendo pouco
e distraído me deixo cair
sob a sombra de um aerólito
autobiografia em dezessete linhas
moleque pequeno que não gosta de futebol
e tem tão poucos amigos que só podia dar em psicólogo
mãe pegando pela mão
tudo transcorre sem maiores problemas
canhestro para o amor e dado
a desperdiçar vazio
mente o fôlego
aos vinte e três falta o jeito
quebra o parabrisa com a cabeça
um corte grande na testa e os olhos
com o sangue nem abrem direito
pensa ter encontrado a tulipa à espera
mas pode estar errado
e reconhece como o resumo de sua história
que a vida pratica reengenharia genética
em tudo que se dá por certo
só pra te fazer rir ao contrário
só pra te fazer esperar o reafago
breu
escuridão como colher de sopa
que parou de refletir um rosto algum
mesmo com o líquido sorvido
escuridão de mangas apertadas
e gola incômoda que pinica a pele
e zíper dado à ferrugem de jamais abrir
escuridão minha guardada na carteira
visível só pelos íntimos
e cravejada de constrangimento amargo
escuros os segundos que rejeitam
o trabalho de se agrupar em minutos
e os meus dentes amarelam enquanto
-
31.5.07
o renato
- ana guadalupe às 11:28 0 comentário(s)
em leituras
27.5.07
éclair
convulsão ou cócega
branco do olho
virado do avesso
assim responderá
ao estímulo
desse que muito lhe quer bem
muitíssimo
com membros e mãos
que evitarão que se quebre
a casca do seu ovo
essa porcelana
ter uma desculpa
menos cretina
só uma
pra quando através
da abertura mínima
esse algo
cor de açúcar
- ana guadalupe às 15:59 5 comentário(s)
em poemas
24.5.07
não me canso
i'm a deep sea diver losing air
é mesmo uma letra deprimente, mas gosto muito dessa música e desse disco do grizzly bear. o clipe é tão feio que logo me conquistou. vejam: bonecos (que qualquer um desenharia melhor) num videogame lento com cores de cocô e fases de água e areia. eu - como todo mundo - sempre odiei as fases de água E as de areia também (aí lembro de um jogo horrível pro mega drive - chameleon kid). eu (previsível) gostava das fases verdes e fáceis e daquelas no mundo do chocolate ou da gelatina.
- ana guadalupe às 19:55 9 comentário(s)
22.5.07
a memória das coisas
revelo um fato místico
enquanto me agarro
ao seu casaco:
usamos lãs de ovelhas
que tomaram chuva
e basta
um vaso de orquídea
uma cápsula do tempo
um bolso secreto
na parte de dentro
pra que eu te guarde
de um céu
que pretende muito
20.5.07
lilipute
longe se estendem
banais cartilagens
dos planos destruídos
nas pausas para lanche
apenas a recordação
de guliver capturado
com lanças pelo corpo
e novidade nas sardas
inspira breve susto e
breve exercício respiratório
para recobrar a calma
- ana guadalupe às 02:11 2 comentário(s)
em poemas
14.5.07
toc
quem bate à porta
acredite
não é o frio
que é costume mandar embora
não são os escoteiros
ou as mulheres da igreja
ou os sujeitos de boina
hoje não abra
quem bate
é esse intruso
que de brinde levará
as chaves e
o dente mole
há anos à espera
de um impulso
no barbante
e mudará
por completo
o sentido
dos rituais noturnos
pra checar mil vezes
se a porta
foi trancada
- ana guadalupe às 15:30 2 comentário(s)
7.5.07
portal literal
surpresa: graças à muito querida e dona de poemas tão bonitos bruna beber, estou lá na curadoria de poeta, levando três poemas daqui.
- ana guadalupe às 16:50 7 comentário(s)
seqüência
aquele é o cenário quieto em tons
de verde triste e verde claro
escrivaninha cadernos e telescópio
aquelas são as persianas
bem fechadas para que a inspiração
não ouse ir embora de alpargatas
e
esse
que te escreve
é o personagem que morre
falando sobre asteróides
ao telefone
- ana guadalupe às 01:56 1 comentário(s)
5.5.07
poemas pra ninar pesadelos
da encomenda
passos longos em direção ao
ponto árido onde barcos
trazem embrulhos
p. exemplo caixas
de madeira
nas quais os entes
queridos
estão
todos
guardados
-
da comida
é meu desjejum é
meu único
o sinto prestes a ser servido
um prato grande e
vermelho
o vejo antes que seja prato
salivo como um bicho
assim que chega
noto, medonha e trêmula,
que está vazio
-
da nudez
despertar súbito
sob os dedos enormes
dos colegas
há a surpresa
de afinal não ter trazido
sequer o vestido
- ana guadalupe às 19:20 1 comentário(s)
3.5.07
selos
toda quinta-feira numa coluna de poesia no diário (maringá): poemas inéditos & outras tentativas bem intencionadas, sob o novíssimo codinome dessa ana guadalupe.
- ana guadalupe às 08:57 4 comentário(s)
28.4.07
de impacto
enquanto nada cicatriza
parece bonito ostentar
feridas
e clichês - em movimento
(medir o pulso com
velocímetros)
amar é sempre acidente
e masoquismo
(não há novidade nisso)
e cronenberg fez um filme
sobre prazeres estranhos
mas
você avança muito rápido
e eu nem relógio tenho
- ana guadalupe às 12:38 2 comentário(s)
26.3.07
um aviso
se esperança existe
eu evito
desesperar-me nesse espaço
de tempo: minutos
(...)
- ana guadalupe às 14:53 1 comentário(s)
até as vaqueiras ficam tristes
notas no diário
(misterioso):
achados & perdidos
à beira de um ataque de gênero
aulas mortas e ouvidos muito limpos
uso de microscópios e lenços decorados
- ana guadalupe às 14:25 3 comentário(s)
em cinema
24.3.07
idéiafixa
vou ser infeliz
vou lhe chatear
roberto schwarz
- ana guadalupe às 15:15 1 comentário(s)
em leituras
5.3.07
pachorra
embora não se chamasse joana e não estivesse grávida de nada
correria pelas quitandas como se fosse quarta-feira e
assumiria que não era bailarina, que dançar não sabia,
tatuaria palavras-chave como medida de emergência para
contar a todos que não havia sequer uma alavanca, nenhuma,
que por acaso garantisse destruição bela ou segura.
não sabiam seu nome, telefone,
mas em breve certamente
explodiria
em conteúdo perecível
no carpet da sala
- ana guadalupe às 11:02 2 comentário(s)
em poemas